Sempre que me perguntam "Você é feliz?" Eu penso: - Não, eu não sou... Mas, afinal, O que é ser feliz? É um conceito fechado, delimitado por regras? É um conjunto de conquistas pessoais e materias? É a beleza física? A evolução espiritual? Nossa... Não sei... Porque, sério, para mim, nada disso é ser feliz... A felicidade é um engodo social... É o que nos disseram para perseguir, para que não parássemos de caminhar... Muitos vão dizer que a felicidade está dentro de nós, que não podemos projetar nossos ideais de felicidade em outras pessoas... Mas, então, se não posso acreditar que minha felicidade está nos outros, nunca poderei encontrá-la...Porque em mim ela não está... Eu nunca a vi... Nunca flertei com ela... Nunca sequer ousei chegar muito perto do que, conceitualmente, ela é...
Bem, acho que para mim o que resta são as gargalhadas soltas em momentos frívolos... O pequeno prazer de um gosto bom em minhas papilas gustativas, a pureza que sinto em mim quando olho para um animal... Talvez a felicidade para mim seja isso... Mas, se for, é tão pouco que não motiva o meu caminhar suficientemente, porque, neste momento, só penso em parar....
Jana S.
sábado, 30 de abril de 2011
quinta-feira, 28 de abril de 2011
O MAR E A ESPERANÇA
Sentado na areia tenho o mar bravio como minha companhia; somente ele me escutará, me julgará e minhas lágrimas secará.
Penso em você.
A tristeza invade meu coração e ali permanece até começar a exsudar o salso licor pelos meus olhos, embebendo todo o meu rosto; e em minha frente somente o mar bravio enquanto pranteio.
Desejo-te a cada instante.
Você me está tão perto, mas tão distante, que transformo em dor os sussurros da esperança em meus ouvidos.
Vejo-te na linha do horizonte.
As lágrimas continuam a dimanar de meu olhar; por que estás a me esperar no horizonte? Será esse meu destino, caminhar em sua direção e nunca alcançá-la?
Talvez em um momento de insanidade ou de profundo anseio, eu vejo o acalmar do bravio mar dizendo-me que sou eu quem está a vê-la nas miragens do horizonte.
Surge a última lágrima a verter em meus olhos seguido pelo desabrochar de um leve sorriso da dolorosa esperança.
Levanto-me e me retiro com aquele pequeno fio de esperança no coração de um dia ter minha amada ao meu lado.
(Natan Boanafina)
sexta-feira, 22 de abril de 2011
CRISE EXISTENCIAL
-O que te fez vir até a mim? a procurar minha ajuda?
-Doutor, eu vim até aqui para tentar entender os humanos e ao mesmo tempo conhecer minha origem.
- Certo, então sinta-se à vontade para falar. Dar-te-ei toda atenção.
- Doutor, andei vendo e estudando o comportamento de alguns desses seres mas não consigo compreendê-los.
Mês passado, um casal apaixonado, estavam um tempo afastado por brigas bobas, se reencontrou, e a jovem moça jogou a culpa em mim por tal fato. Tudo bem, fiquei feliz por eles mas não fui eu quem os uniu.
- Quantos anos ela tinha?
- Devia ter entre seus dezoito e vinte anos.
-Certo... prossiga!
- Há pouco tempo ocorreu uma fatalidade que afastou esse casal de novo, só que dessa vez sem volta. A menina faleceu devido a um acidente de carro. Adivinha doutor, em quem o jovem rapaz desconsolado jogou a culpa? Em mim! Doutor, eu juro, eu não mato ninguém nem forjo meios para que isso aconteça. Não forjo nada para ninguém, eu mesmo não sei se existo, como poderei criar algo para os que tem certeza que existem? Eles me criam, simplesmente.
- E esse jovem rapaz? Qual a idade?
- Esse eu creio ter seus vinte e cinco anos.
- Sim, prossiga.
- Ontem, uma criança de aproximadamente dez anos atravessava a rua quando um homem ultrapassou o sinal vermelho, atropelou e matou aquela pequena alma. Eis que me surge um comentário de uma senhora que viu o corpo da criança estendida no chão, dizendo que eu era cruel.
De novo, doutor, porque eu? Eu já disse que não mato nem crio nada nem ninguém, eu que sou criada, talvez fruto da imaginação de alguém ou me pegaram parar servir de culpado de tudo. Por que tudo que acontece entre os humanos tem de ser culpa minha? Por que?!
- Humm... interessante observação a sua. Mas já parou para pensar que os humanos não gostam de ser culpados por nada? Só querem ter o mérito de atitudes que lhes tragam “status”, reconhecimento?
- Mas por que logo eu tenho de ser o responsável?
- Porque nós humanos te criamos para isso.
- Doutor, o senhor acredita em minha existência?
- Não.
Bom, por hoje nosso tempo se esgotou. Lembre-se sempre de se desligar de todas suas tensões, vá se distrair, tirar umas férias.
- Então está certo, semana que vem volto para mais uma seção. Até mais.
Saindo de seu consultório, o terapeuta presencia o atropelamento e morte consequente de um jovem estudante. Indignado com a cena, ele reclama mentalmente:
-“Uma vida perdida. Esta criança tinha um mundo pela frente e morre assim, tão tragicamente. Mas que frieza do destino...”
(Natan Boanafina)
(Natan Boanafina)
quarta-feira, 6 de abril de 2011
PULSOS
Meus pulsos doíam demais. Eu sentia a pulsação por todo o corpo; sentia minha energia esvair-se na direção dos braços. Estava fraca e quase não enxergava. Junto com a dor, vinha a tristeza e a depressão. Por causa da minha quase falta de visão, a penumbra que cobria meu quarto aumentava minha angustia e meu medo de ficar no escuro, pois sabia que não tendo uma imagem para olhar quando fechasse meus olhos, nunca mais eles se abririam.
Olhava ao meu redor com grande esforço e atenção para recordar-me daquilo que havia sido meu refugio: o meu quarto. Era como um camarote de onde via, graças à minha janela, os fantoches em seu melancólico espetáculo, indo e vindo sempre com as mesmas expressões, com a mesma pressa, com o mesmo vazio.
Tudo era tão artificial! Até mesmo onde havia beleza, tinha um toque de algum decorador. Quando era criança, costumava levantar e deitar a cabeça no batente da janela para olhar o lago à noite, depois que minha mãe me punha na cama. Ele era lindo!... As luzes refletiam em sua superfície espelhada, dando um tom amarelado em partes dispersas em contraste com o intenso azul da água. Eu pensava que aquela iluminação vinha do céu, das estrelas, mas não, vinha dos prédios da cidade e não estava ali porque era belo estar ali, mas por uma simples conseqüência.
O intenso cheiro de sangue misturado ao meu perfume adocicado aumentava tanto minha dor de cabeça quanto meu enjoo. Estava tonta, mas queria me levantar. Dobrei as pernas e tentei suspender meu corpo; pus a mão ao chão em um ato de reflexo. Senti como se uma linha de fogo queimasse o corte. Um baixo gemido escapou de meus lábios e dissipou-se no silencio. Comecei a chorar baixinho. Levantei-me com esforço e mais um pouco de dor. Meu corpo estava tão leve... Minhas lágrimas desciam pelo rosto fazendo uma cócega tão agradável que, da minha boca, partiu um sorriso.
Andei sem dificuldade pelo escuro, porque conhecia tão bem aquele espaço quanto a mim mesma. Meu corpo parou. Estendi a mão _ a dor já não fazia efeito _ , e senti o frio que entrava pela janela esfriar minhas lágrimas. Olhei para o lago e acompanhei o contorno que a cidade fazia ao seu redor, ate que meus olhos bateram em um casal de idosos que estavam bem juntinhos, de braços entrelaçados. Para protegerem-se do frio, ou como simples forma de carinho? Não sei. Mas, ao olhá-los, despertou-se em mim grande vontade de viver, de ter um momento como aquele para mim. Os dois estavam tão bem juntos e demonstravam tanto amor... Meus olhos os acompanhavam com medo de perder qualquer detalhe daquela rara cena como se eu nunca tivesse visto uma atuação como aquela.
Minhas pernas bambearam. Um pânico percorreu todo meu corpo. Cambaleei para trás e fui levada ao chão novamente. Não me movia. As cordas que me prendiam foram cortadas. Meu papel havia chegado ao fim. O que acontecia aos fantoches que cumpriam sua parte no espetáculo? Iam de encontro ao seu roteirista?
Estava muito próxima de descobrir.
Laíza Lima
Olhava ao meu redor com grande esforço e atenção para recordar-me daquilo que havia sido meu refugio: o meu quarto. Era como um camarote de onde via, graças à minha janela, os fantoches em seu melancólico espetáculo, indo e vindo sempre com as mesmas expressões, com a mesma pressa, com o mesmo vazio.
Tudo era tão artificial! Até mesmo onde havia beleza, tinha um toque de algum decorador. Quando era criança, costumava levantar e deitar a cabeça no batente da janela para olhar o lago à noite, depois que minha mãe me punha na cama. Ele era lindo!... As luzes refletiam em sua superfície espelhada, dando um tom amarelado em partes dispersas em contraste com o intenso azul da água. Eu pensava que aquela iluminação vinha do céu, das estrelas, mas não, vinha dos prédios da cidade e não estava ali porque era belo estar ali, mas por uma simples conseqüência.
O intenso cheiro de sangue misturado ao meu perfume adocicado aumentava tanto minha dor de cabeça quanto meu enjoo. Estava tonta, mas queria me levantar. Dobrei as pernas e tentei suspender meu corpo; pus a mão ao chão em um ato de reflexo. Senti como se uma linha de fogo queimasse o corte. Um baixo gemido escapou de meus lábios e dissipou-se no silencio. Comecei a chorar baixinho. Levantei-me com esforço e mais um pouco de dor. Meu corpo estava tão leve... Minhas lágrimas desciam pelo rosto fazendo uma cócega tão agradável que, da minha boca, partiu um sorriso.
Andei sem dificuldade pelo escuro, porque conhecia tão bem aquele espaço quanto a mim mesma. Meu corpo parou. Estendi a mão _ a dor já não fazia efeito _ , e senti o frio que entrava pela janela esfriar minhas lágrimas. Olhei para o lago e acompanhei o contorno que a cidade fazia ao seu redor, ate que meus olhos bateram em um casal de idosos que estavam bem juntinhos, de braços entrelaçados. Para protegerem-se do frio, ou como simples forma de carinho? Não sei. Mas, ao olhá-los, despertou-se em mim grande vontade de viver, de ter um momento como aquele para mim. Os dois estavam tão bem juntos e demonstravam tanto amor... Meus olhos os acompanhavam com medo de perder qualquer detalhe daquela rara cena como se eu nunca tivesse visto uma atuação como aquela.
Minhas pernas bambearam. Um pânico percorreu todo meu corpo. Cambaleei para trás e fui levada ao chão novamente. Não me movia. As cordas que me prendiam foram cortadas. Meu papel havia chegado ao fim. O que acontecia aos fantoches que cumpriam sua parte no espetáculo? Iam de encontro ao seu roteirista?
Estava muito próxima de descobrir.
Laíza Lima
terça-feira, 5 de abril de 2011
CORAÇÃO CIGANO
Quisera eu ser um cigano, mas não um cigano conforme conhecemos hoje em dia, não não: aquele que monta seu acampamento por um tempo e antes mesmo de se criar um amor pelo local já pegam suas trouxinhas, levantam acampamento e saem em busca de um novo lugar para ficar, sem ter uma mínima saudade do lugar antes deixado para trás.
Eu não queria ser este tipo de cigano, não! Eu queria mesmo era ser um cigano do amor: aquele que monta seu acampamento no coração das mulheres e sem mais nem menos bate em retirada sem olhar para trás, sem sentir saudades dos momentos ali vividos.
Ah! Como seria bom ser assim. Eu não sofreria de saudade, não sofreria de amor; minhas lembranças seriam só mais uma lembrança de uma vida que sempre foi igual. Mas, infelizmente, não consigo ser um desses ciganos, pois em cada coração que eu passo, faço questão de deixar meu vestígio, um sinal de que eu montei meu acampamento ali, e que no mínimo, felicidades eu deixei.
Como se não fosse o bastante, eu estive naquele coração o tempo suficiente para olhar para trás e pensar: que saudades! E ter em meus olhos a digna lágrima da despedida e da tristeza e o pensamento culposo de por algum motivo ter tido de sair dali.
(Natan Boanafina)
(Natan Boanafina)
domingo, 3 de abril de 2011
SONHOS DO DESEJO
...e mais uma noite: só, amargurado, exausto e desesperançado.
Retiro meus sapatos e meu paletó, afrouxo minha gravata e como em um último ato de um espetáculo, do meu espetáculo, diário e particular, meu corpo se lança à minha cama.
Nos três minutos que se seguem, fixo meu olhar para o teto, não sei mais o que pensar ou imaginar: não tenho forças para tais privilégios. Começo a sentir repentinamente aquele afago que me visita toda noite, afago daquela mão, mão única e inconfundível, a mão que acaricia-me o rosto com a sutileza de uma pluma embebida de afeto, amor, carinho e atenção; a mão da esposa atenciosa ou talvez a mão da amante apaixonada, não sei e também não me importo, tudo o que sei é que estou me acalmando, minha mente não está mais a mil por hora, estou me confortando ao ponto de querer desabrochar um suspiro, mas como disse anteriormente, ainda estou me acalmando, estou tenso.
Começo a acreditar que meu dia, minha luta, foi realmente recompensada pelas mãos de uma mulher – estou certo de ser uma mulher, embora não consiga ver seu rosto ou seu corpo – só sei que estou me apaixonando por essa mão, por essa amante.
Ainda estou tenso porém mais tranquilo do que quando cheguei em casa.
O carinho em meu rosto continua suavemente: é um anjo! Exclamei em meu pensamento. Por uns segundos a mão tão afável se separa de minha face e em minha frente começa a aparecer um corpo feminino, um corpo que parecia ter sido esculpido com toda a preocupação de um escultor dedicado. Meus olhos inspecionam cada detalhe de seu corpo. Mas, e o seu rosto? como seria?
Ergo-me o olhar em direção ao seu rosto, vejo seu queixo perfeito, simétrico, olho seus láb... e assustado acordo com o despertador a tocar:
- Cinco da manhã! e assim erguem-se as cortinas para recomeçar o show, o meu show diário...
(Natan Boanafina)
(Natan Boanafina)
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