domingo, 3 de abril de 2011

SONHOS DO DESEJO

 ...e mais uma noite: só, amargurado, exausto e desesperançado.
 Retiro meus sapatos e meu paletó, afrouxo minha gravata e como em um último ato de um espetáculo, do meu espetáculo, diário e particular, meu corpo se lança à minha cama.
Nos três minutos que se seguem, fixo meu olhar para o teto, não sei mais o que pensar ou imaginar: não tenho forças para tais privilégios. Começo a sentir repentinamente aquele afago que me visita toda noite, afago daquela mão, mão única e inconfundível, a mão que acaricia-me o rosto com a sutileza de uma pluma embebida de afeto, amor, carinho e atenção; a mão da esposa atenciosa ou talvez a mão da amante apaixonada, não sei e também não me importo, tudo o que sei é que estou me acalmando, minha mente não está mais a mil por hora, estou me confortando ao ponto de querer desabrochar um suspiro, mas como disse anteriormente, ainda estou me acalmando, estou tenso.
Começo a acreditar que meu dia, minha luta, foi realmente recompensada pelas mãos de uma mulher – estou certo de ser uma mulher, embora não consiga ver seu rosto ou seu corpo – só sei que estou me apaixonando por essa mão, por essa amante.
Ainda estou tenso porém mais tranquilo do que quando cheguei em casa.
O carinho em meu rosto continua suavemente: é um anjo! Exclamei em meu pensamento. Por uns segundos a mão tão afável se separa de minha face e em minha frente começa a aparecer um corpo feminino, um corpo que parecia ter sido esculpido com toda a preocupação de um escultor dedicado. Meus olhos inspecionam cada detalhe de seu corpo. Mas, e o seu rosto? como seria?
Ergo-me o olhar em direção ao seu rosto, vejo seu queixo perfeito, simétrico, olho seus láb... e assustado acordo com o despertador a tocar:
- Cinco da manhã! e assim erguem-se as cortinas para recomeçar o show, o meu show diário...
                                                              (Natan Boanafina)

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