Olhava ao meu redor com grande esforço e atenção para recordar-me daquilo que havia sido meu refugio: o meu quarto. Era como um camarote de onde via, graças à minha janela, os fantoches em seu melancólico espetáculo, indo e vindo sempre com as mesmas expressões, com a mesma pressa, com o mesmo vazio.
Tudo era tão artificial! Até mesmo onde havia beleza, tinha um toque de algum decorador. Quando era criança, costumava levantar e deitar a cabeça no batente da janela para olhar o lago à noite, depois que minha mãe me punha na cama. Ele era lindo!... As luzes refletiam em sua superfície espelhada, dando um tom amarelado em partes dispersas em contraste com o intenso azul da água. Eu pensava que aquela iluminação vinha do céu, das estrelas, mas não, vinha dos prédios da cidade e não estava ali porque era belo estar ali, mas por uma simples conseqüência.
O intenso cheiro de sangue misturado ao meu perfume adocicado aumentava tanto minha dor de cabeça quanto meu enjoo. Estava tonta, mas queria me levantar. Dobrei as pernas e tentei suspender meu corpo; pus a mão ao chão em um ato de reflexo. Senti como se uma linha de fogo queimasse o corte. Um baixo gemido escapou de meus lábios e dissipou-se no silencio. Comecei a chorar baixinho. Levantei-me com esforço e mais um pouco de dor. Meu corpo estava tão leve... Minhas lágrimas desciam pelo rosto fazendo uma cócega tão agradável que, da minha boca, partiu um sorriso.
Andei sem dificuldade pelo escuro, porque conhecia tão bem aquele espaço quanto a mim mesma. Meu corpo parou. Estendi a mão _ a dor já não fazia efeito _ , e senti o frio que entrava pela janela esfriar minhas lágrimas. Olhei para o lago e acompanhei o contorno que a cidade fazia ao seu redor, ate que meus olhos bateram em um casal de idosos que estavam bem juntinhos, de braços entrelaçados. Para protegerem-se do frio, ou como simples forma de carinho? Não sei. Mas, ao olhá-los, despertou-se em mim grande vontade de viver, de ter um momento como aquele para mim. Os dois estavam tão bem juntos e demonstravam tanto amor... Meus olhos os acompanhavam com medo de perder qualquer detalhe daquela rara cena como se eu nunca tivesse visto uma atuação como aquela.
Minhas pernas bambearam. Um pânico percorreu todo meu corpo. Cambaleei para trás e fui levada ao chão novamente. Não me movia. As cordas que me prendiam foram cortadas. Meu papel havia chegado ao fim. O que acontecia aos fantoches que cumpriam sua parte no espetáculo? Iam de encontro ao seu roteirista?
Estava muito próxima de descobrir.
Laíza Lima

Um comentário:
Concerteza esse texto foi criado assim tão melancólico pq ainda não tinha encontrado sua fonte de felicidade. ;)!!! A tantos modos de descrever uma noite a beira da praia com estrelas q parecem fogos de artifício. Tanta coisa tão mais pra cima... ;)!!!
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